quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Otavio Zarvos: Uma cidade doente

O Plano Diretor Estratégico de São Paulo prestes a ser aprovado foi objetivo com relação ao tipo de apartamento que o paulistano dever comprar daqui pra frente: se você sonha em morar num apartamento naquela rua tranquila, com duas ou mais vagas de garagens e com mais de 100 m, pode se preparar para pagar mais pelo seu sonho.
As novas regras encarecerão a construo desse tipo de apartamento que sempre encantou a classe média paulistana. Os construtores deverão erguer menos prédios nos miolos dos bairros e migrar para perto das grandes avenidas com corredores de ônibus ou em regiões a até 500 metros de estações de metrô e trens.
Menos oferta de apartamentos e custos de produção mais altos em virtude da obrigatoriedade de se pagar a outorga onerosa (imposto pago prefeitura para se erguer o prédio) deve manter os prédios altos ou aumentá-los no miolo dos bairros.
Por outro lado, se você topar morar perto de uma avenida com corredor de ônibus ou a até 500 metros de uma estação de metrô, a oferta de apartamentos ser grande, os prédios não deverão subir ou até diminuirão, uma vez que a maioria dos construtores dever migrar seus empreendimentos para essas regiões, onde a prefeitura vai permitir a construção de prédios com o dobro do potencial construtivo daqueles nos miolos de bairro, sem limite de altura e com preço da outorga onerosa muito mais baixo.
Mas nem tudo é felicidade. Esqueça as duas ou mais vagas de garagem, pois só será permitida no máximo uma por apartamento, e se você sonha com dois ou mais quartos espaçosos, compre um apartamento para você e sua esposa e um outro para os seus filhos, pois nessas áreas o Plano Diretor prevê a construção de apartamentos compactos (menores do que 80 m).
Uma novidade positiva do plano será o incentivo ao comércio no térreo dos prédios, o que deverá diminuir a pressão do preço dos alugueis desse tipo de imóvel e tornará a vida de quem anda a pé um pouco menos chata, uma vez que, em vez de andar ao lado de um muro de um condomínio, poderemos ter coisas mais interessantes na calçada.
Os nossos hábitos terão de mudar e, para isso, as propostas do novo Plano Diretor tentam não agravar o problema de mobilidade e seguir o que já é praticado há décadas nas grandes metrópoles dos países desenvolvidos: mais gente morando perto umas das outras, em apartamentos menores, com pouquíssimas vagas de garagem e próximos ao trabalho ou comércio, utilizando o transporte público, de modo a evitar deslocamentos muito grandes, que pioram o trânsito.
A cidade de São Paulo está doente e por isso vamos ter de fazer uma dieta urbanística e cortar os excessos a que estávamos acostumados. Mais ou menos como tirar açúcar do paciente que está obeso: ele não vai gostar, mas, se não fizer isso, morre.
São Paulo sofre não apenas com a falta de planejamento, mas também com a falta de recursos. Se a gente procurar saber o quanto São Paulo manda de impostos para o resto do país e o pouco que recebe em troca, veremos que não é tão simples assim resolver os problemas gigantescos que temos por aqui.
Ás vezes eu comparo a nossa cidade a um pai de família, que tem de manter três empregos para sustentar o padrão de vida dos filhos e agregados, trabalhando 16 horas por dia e, quando chega em casa, ainda leva bronca da família porque no faz exercício físico e não adota uma dieta balanceada.
Houve um avanço desse plano em relação ao anterior. Os principais temas urbanísticos que deterioram a qualidade de vida na nossa cidade foram abordados. Ainda há muito o que melhorar, mas daqui a dez anos, quando esse novo plano estiver velho, e formos discutir tudo isso novamente, quem sabe a gente possa ver São Paulo mais saudável e entendermos que, assim como uma pessoa, uma cidade pode rejuvenescer se cuidar da sua saúde.

OTAVIO ZARVOS, 47, sócio-fundador da incorporadora Idea!Zarvos

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/06/1475174-otavio-zarvos-uma-cidade-doente.shtml


sábado, 16 de agosto de 2014

Tendência de São Paulo são apartamentos menores e mais caros .

Um segmento crescente de paulistanos está escolhendo pagar mais caro para morar perto do trabalho em vez de manter residências grandes e bons carros




São Paulo - Um congestionamento de quatro horas em São Paulo, em dezembro, acabou convencendo Ricardo Tadeu Souza Valle que era hora de ir embora.
Vendeu seu apartamento de três quartos e 100 metros quadrados no bairro da Saúde, a 16 quilômetros de seu escritório, e comprou uma residência com menos da metade do tamanho.
Ele se muda para o novo lugar até outubro, reduzindo seu trajeto diário para o trabalho, na Chácara Santo Antônio, para uma caminhada de 10 minutos -- e, em troca, está pagando 30 por cento a mais.
“O trânsito de São Paulo tem piorado muito, por isso resolvi morar perto do trabalho para não ter que pegar o carro”, disse Valle, paulistano de 32 anos que é sócio da consultoria financeira Conquest Brasil.
Valle faz parte de um segmento crescente de brasileiros que está escolhendo pagar mais caro para morar perto do trabalho em vez de manter residências grandes e bons carros.
Outras mudanças sociais também estão empurrando pessoas de classe média para apartamentos menores, como a disposição de abrir mão de uma empregada que more em casa e os filhos que deixam o ninho em vez de morarem com os pais até se casarem.
“Demografia, estilo de vida, emprego e crédito - essas são as razões da demanda por imóveis no Brasil”, disse Eduardo Muszkat, diretor-executivo da You Inc., construtora especializada em moradias compactas.
“E aí você vem para São Paulo, onde o transito é caótico, então morar perto do trabalho ou do metrô aumenta muito o valor percebido do prédio”.
Aquisição de terrenos
O afluxo para distritos comerciais como Itaim Bibi tem impulsionado os preços dos imóveis porque os terrenos estão se tornando escassos.
A oferta imobiliária já é limitada devido à densa população de São Paulo, que aumentou em 1 milhão de pessoas na última década, para cerca de 11,4 milhões de pessoas, espalhadas por 1.491 quilômetros quadrados.
“O terreno custa caro. Se eu fizer um apartamento grande, ele vai custar muito caro e não vai ser acessível”, disse Muszkat, em entrevista.
“A equação fecha com o apartamento pequeno muito bem localizado, com serviços de lavanderia e academia, etc., que a pessoa precisa que caiba no bolso”.
Essa mudança está levando construtoras como a Cyrela Brazil Realty SA a reduzirem o tamanho dos apartamentos que constroem. A Cyrela visa compradores que querem estar perto do trabalho, disse Piero Sevilla, diretor de desenvolvimento imobiliário da Cyrela, em entrevista, em São Paulo.
“O que é que traz esse produto mais reduzido? Se a gente pegar exemplos das grandes metrópoles do mundo, vemos que elas têm muito trânsito, têm dificuldade de locomoção”, disse ele.
O acesso a empréstimos e um incremento nos empregos formais ao longo da última década permitiram que os brasileiros financiassem residências que antes eram vendidas à vista, disse Muszkat, da You Inc.
A taxa de desemprego no Brasil caiu para 4,9 por cento em abril, contra 13 por cento em 2004.
Os empréstimos imobiliários subiram para cerca de 530.000 com um valor de R$ 109 bilhões (US$ 48 bilhões) em 2013, contra um total de cerca de 54.000 com valor de R$ 3 bilhões em 2004, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança.
Região desejada
Os apartamentos de 40 metros quadrados em um novo edifício chamado Über no Itaim Bibi são vendidos por cerca de R$ 800.000, disse Roberto Sadão, corretor da construtora Grupo Canopus.
“Essa é uma região muito desejada”, disse Sadão, de pé no elegante apartamento-modelo do Über, que conta com uma varanda ampla e um cooktop de duas bocas. “Quem compra são os solteiros ou os executivos do interior que têm negócios aqui”.
Embora os paulistanos estejam estudando uma mudança, as vendas estão lentas por causa da inflação no Brasil, que em junho superou o teto da meta, de 6,5 por cento.
Essa situação se combina com as preocupações a respeito do rumo do país antes de a presidente Dilma Rousseff disputar a reeleição, em outubro, disse Sadão, o corretor do Über.
Dos 122 apartamentos do edifício, que ficará pronto no ano que vem, apenas em torno de 20 foram vendidos.
“As pessoas que comprariam aqui não estão comprando por causa das políticas da Dilma e da incerteza na economia”, disse Sadão.
“Temos uma inflação reprimida, todo mundo sabe disso, mas os que estão interessados em comprar voltarão logo, porque vão se tocar que daqui a pouco já não será possível construir prédios assim”.
Valle disse que seus amigos estão seguindo seus passos e encolhendo suas moradias para ficarem mais perto do trabalho.
Uma estação de metrô deverá ser aberta perto do seu apartamento no ano que vem, com conexão com o aeroporto internacional de Guarulhos.
“Vou vender meu carro quando o metrô abrir”, disse Valle. “O metrô foi fator determinante. Eu poderei viajar para Londres a pé via Guarulhos, nem táxi eu vou precisar pegar”.
Fonte: exame.com.br